Esse é um blog com informações que podem ser úteis para o baterista que está começando a conhecer seu instrumento. Como baterista amador (e bota amador nisso...), sou um péssimo blogueiro. Minhas tentativas de manter um blog pessoal não deram em nada, mas sempre achei que deveria compartilhar alguma coisa. Desde 2005 eu frequento o Fórum Cifra Club , que me estimulou muito a pesquisar mais sobre assuntos relacionados ao meu hobby favorito: tocar bateria, especialmente em relação a equipamentos. Desde então venho postando tópicos aqui e ali e que acredito que possam ser úteis aos bateristas iniciantes. Esse blog é um tentativa de centralizar as informações que criei e obtive ao longo deste período. Fica aqui a esperança que este blog possa ser de utilidade pra alguém. Comentários (sem anonimato, plz !) e sugestões são bem-vindos.



30 abril 2009

Sobre Cascos... (ou porque minha Pearl Export não é uma DW)


O casco é o corpo do tambor e pode ser feito de vários materiais, mas o mais utilizado é madeira mesmo. Na década de 70 a Ludwig lançou o modelo Vista-Lite, todo em acrílico, que fez muito sucesso, mais pelo efeito visual q pela sonoridade. A Gope, no Brasil lançou também sua versão de acrílico, na década de 80. Existem cascos em aglomerado e em diversos tipos de compósito, em especial de fibra de carbono. A madeira é o material preferido para a confecção de cascos devido a suas propriedades acústicas, principalmente a projeção e seletividade de frequências. O casco é responsável pelo timbre e "profundidade" do som do tambor. Ao tocar a pele, o casco ressoa com ela e resulta no som final do tambor. Tambores de melhor qualidade tem cascos compostos de madeiras que ressoam melhor que tambores mais baratos. Para entender melhor o papel dos cascos, experimente retirar as peles de um tambor e tocar no casco (suspenso) com uma baqueta de feltro. O casco tem sonoridade própria !
A função do material do casco é fundamentalmente ressoar com o toque da pele. A maneira como ocorre esta interação é que determina o timbre do tambor. Tambores de grande massa (seja densidade ou espessura) necessitam mais força para obter boa ressonância e tendem a ter menor volume. Madeiras mais densas respondem melhor a frequencias altas e tem timbre mais brilhante. Madeiras um pouco menos densas respondem a frequencias mais baixas e resultam em timbre mais encorpado. Quando a densidade cai muito, o tambor começa a perder características de ressonância e volume. A densidade mais próxima do ideal (na verdade, isso vai muuito de gosto) infelizmente é resultado de um crescimento lento da árvore. Em geral, árvores que crescem rápido fornecem madeira de baixa densidade e pouca ressonância, em se tratando de cascos de tambor. Alguém conhece baterias feitas de eucalipto ? No Brasil, as árvores de crescimento lento mais utilizadas para baterias de qualidade são o pinho de araucária, a Imbuia (usadas na Odery), a Bapeva (usada na RMV Concept e parcialmente na Road Up) e o Cedro rosa (Luthier, Maxter, Adah). Nos USA, todos sabemos que Maple e Birch são as madeiras de escolha para tambores de alta qualidade. São tb arvores de crescimento lento, nativas dos USA. O Mogno (mahogany) Africano tem (dizem, nunca ouvi) o timbre mais encorpado de todas. O preço destas madeiras é alto principalmente pela sua relativa raridade (a extração de mogno africano está à beira da ilegalidade) e políticas de proteção ambiental. Além disso, há alto custo em fretes intenacionais. Se fosse possível vender maple, mogno, araucária, etc. barato, logo estas árvores estariam extintas. A solução para obter um som razoável foi combinar madeiras de baixo custo com madeiras de médio custo (incluidos no custo estão frete internacional, impostos, custo de extração, taxas ambientais, etc). A Pearl e as demais fábricas japonesas encontraram uma solução no chamado Mogno filipino (Philippine Mahogany). Esta árvore não tem nada a ver com mogno e é também conhecida como Lauan. As Pearl Export e Forum até 2001 foram produzidas com esta madeira e a partir daí, em Poplar, que tem características acusticas semelhantes, mas permite melhor acabamento (laqueado). Mais recentemente, o basswood substituiu o poplar na linha Vision, que substituiu a Export. Outros fatores que contribuíram para baixar o custo é a mão de obra local barata.
Já os cascos "top" são produzidos com madeiras selecionadas e produzidos de maneira quase artesanal, com cuidadosa seleção e aposição das lâminas de madeira. A DW Collector, por exemplo, é produzida em 100% maple selecionado. Seus cascos são finos, com anéis de reforço, o que resulta em um som encorpado e controlado com excelente projeção.
Em relação à dimensão dos tambores e sua afinação, cada tambor apresenta uma tessitura, que é determinada por suas dimensões e pelas características do material em que é fabricado. A tessitura de um tambor pode ser entendida como o intervalo de frequências em que o casco tem maior ressonância com a pele. Assim, ao afinar seu tambor, é recomendável que procure fazê-lo dentro da tessitura dele. Ao se afinar acima ou abaixo da tessitura, o som fica diferente, com menos "corpo". Ao golpear a pele de ataque ("batedeira"), é gerada uma vibração nela que se propaga através do ar dentro do tambor e atinge a pele de resposta, que também vai vibrar. Essa vibração se propaga de volta para a batedeira e assim por diante. Uma boa parte da propagação também sai diretamente para fora do tambor, tanto pela batedeira, como pela resposta. A combinação de todas estas ondas interage com o casco, que também vibra segundo suas características físicas. O som que ouvimos é resultante da interação das ondas que se propagam desta maneira. Tambores mais rasos fazem com que o tempo entre a vibração na batedeira e resposta seja mais curto, e é necessário menos deslocamento do ar durante a propagação das ondas dentro do tambor. O som resultante tem um ataque mais rápido e brilhante, e o tambor "fala" mais alto, com menos esforço. Em tambores mais profundos, há um maior volume (cm3) de ar a ser "agitado", e o tempo para a resposta ressoar após o toque da batedeira é maior. Isso exige maior esforço do baterista, mas o som resultante é mais "gordo" e encorpado. Tambores maiores acabam tendo um volume (pressão sonora) final mais alto que os menores, mas à custa de maior esforço. Isso significa que quando mais profundo o tambor, maior sua resposta dinâmica. Note que não falei em "grave" ou "agudo". Isso é característica de afinação. Diâmetros maiores resultam em tessituras mais graves, portanto em sons mais graves. Diâmetros menores fazem o contrário. De um modo geral, quanto maior o volume (cm3) de um tambor, mais grave será sua tessitura, mas maior será sua resposta dinâmica e volume sonoro (pressão sonora).
Identificar a tessitura de seu tambor requer um pouco de ouvido. O modo mais fácil é remover a pele de resposta, afinar a batedeira o mais "solta" possível e começar a bater. Vá subindo a afinação com 1/4 de volta de cada parafuso (afinação cruzada). Vai chegar um ponto em que o tambor vai deixar de ter um som de pote de plástico e começar a soar como um tambor. Esse é ponto mais grave da tessitura. Continue subindo a afinação. Vai chegar a um ponto em que dá a impressão que o som ficou muito "seco" ou "plastificado" (descrever som com palavras é difícil...) Esse é o ponto logo acima do final alto da tessitura. Volte a afinação para a zona de melhor ressonância (dentro da tessitura); remova o tom da estante e coloque sobre um tapete; toque a batedeira, bem no centro: esse som é o harmônico fundamental da sua afinação; coloque a resposta e a afine o mais próximo possível do tom da batedeira, com o tambor ao contrário (a batedeira sobre o tapete). Monte o tom na estante e divirta-se. Depois de ter o ouvido mais treinado, dá pra achar a tessitura sem desmontar o tambor, é só ir mexendo na afinação. O treino do ouvido é necessário pra se distinguir o harmônico fundamental no meio de todas as ressonâncias de um tambor montado. Nada impede que você afine seus tons fora da tessitura, isso é uma opção como outra qualquer. O que acontece é que quando você respeita as tessituras dos tambores na sua afinação, eles soam melhor em conjunto.

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