Esse é um blog com informações que podem ser úteis para o baterista que está começando a conhecer seu instrumento. Como baterista amador (e bota amador nisso...), sou um péssimo blogueiro. Minhas tentativas de manter um blog pessoal não deram em nada, mas sempre achei que deveria compartilhar alguma coisa. Desde 2005 eu frequento o Fórum Cifra Club , que me estimulou muito a pesquisar mais sobre assuntos relacionados ao meu hobby favorito: tocar bateria, especialmente em relação a equipamentos. Desde então venho postando tópicos aqui e ali e que acredito que possam ser úteis aos bateristas iniciantes. Esse blog é um tentativa de centralizar as informações que criei e obtive ao longo deste período. Fica aqui a esperança que este blog possa ser de utilidade pra alguém. Comentários (sem anonimato, plz !) e sugestões são bem-vindos.



17 outubro 2009

Bzzz ! Eliminar o zumbido de esteira ?

Muita gente se incomoda demais com o ruído provocado pela ressonância na esteira da caixa, o famoso zumbido de esteira. A rigor, não tem jeito: sempre vai haver algum grau de ressonância entre a caixa e as outras peças do kit, ou com os outros instrumentos. Então, é importante aceitar que o zumbido faz parte de sonoridade geral do seu kit. Com frequência, um zumbido meio incômodo durante o estudo acaba desaparecendo quando o baterista toca junto com a banda, ou tem sua gravação mixada com um play-along. Se ouvirem com atenção, muitas gravações mais antigas, das grande bandas dos anos 70, apresentam o zumbido, mas ninguém liga.
Mas às vezes esse ruído fica realmente excessivo e passa a incomodar.
As causas para um zumbido excessivo são várias. O mais comum é devido a problemas de afinação do kit. Para evitar excesso de zumbido, é importante que a caixa esteja em uma afinação diferente dos tontons. O ideal é que esteja dissonante em relação aos tontons. Tensão desigual nos parafusos da pele de ataque também favorece o aparecimento de harmônicos que levam ao zumbido. Esteiras velhas ou danificadas, com fios frouxos, também zumbem mais.
A pele de resposta é um capitulo à parte. Peles muito espessas zumbem menos, mas a sensibilidade da esteira também diminui drasticamente. Já li recomendações para se usar peles extremamente finas (200 micra ou menos) pois estas peles possuem menos inércia e o zumbido cessaria mais rápido. A afinação da pele de resposta também não é consenso. Em caixas com 10 parafusos de afinação, recomenda-se deixar os 4 parafusos mais proximos da esteira com menos tensão que os demais, sem enrugar a pele.
Um erro muito comum é apertar demais o parafuso do automático. De fato isso reduz o zumbido, mas também mata muito da resposta de esteira e "afoga" o som da caixa. Não é recomendável, assim como tentar abafar a pele de resposta, ou colar adesivos na esteira.
Às vezes a localização do kit é desfavorável. Se o kit é montado num canto de uma sala sem tratamento acústico, a chance de reverberação e ruido de esteira é maior. Tente montar o kit contra a parede mais larga da sala. Se o espaço permitir, monte no meio dela.
Uma solução mais radical é colocar uma barreira física entre a face inferior da caixa e os outros tambores. A sugestão (feia demais, admito) é fazer uma espécie de saia (ou cortina) com uma toalha de rosto fixada no aro de baixo, envolvendo parcialmente a estante da caixa. É o tipo de recurso que se usa em estúdio, sem ninguém pra ver, junto com os rolos de fita crepe e silver tape.
O recurso de áudio mais usado para combater o ruído de esteira é o noise gate (NG). O NG é resumidamente um processador que funciona como um portão para o som: abaixo de um determinado limiar, nenhum som passa. Quando o limiar é superado, o portão se abre e passa todo o som até o limiar baixar, fazendo o portão fechar de novo. Basta ajustar o limiar do NG para um nivel logo acima do zumbido que o problema está resolvido. Infelizmente, esse recurso exige uma microfonação exclusiva para a caixa, e se o zumbido é muito alto, o limiar precisa ser tão elevado que começa a interferir na curva sonora da caixa, atrapalhando, por exemplo, a gravação de ghost notes.
Bob Gatzen publicou dois pequenos videos onde analisa as causas do zumbido de esteira e demonstra um modo bastante original de controlá-lo. Eu traduzi estes videos para a comunidade do Orkut "Traduzindo Vídeos de Bateria" e agora os publico aqui. Para ativar as legendas, use o icone em forma de trîângulo no canto inferior direito da tela.





Se o vídeo for baixado, as legendas se perdem. Espero que estas informações sejam úteis.

28 setembro 2009

Review - Caixa Orange County Drums and Percussion



Minha caixa "titular" era uma Luthier de cedro bastante antiga e que me serviu bem nos últimos 20 anos. Mas de uns tempos pra cá, comecei a ter uma certa dificuldade pra acertar o som dela. Não sei se passei a ser mais exigente, mas comecei a implicar com o seu timbre. Aí resolvi desmontá-la, com a idéia de dar uma relixada no lado interno do casco, pra tentar cortar um pouco dos harmônicos. Durante o processo de desmontagem, verifiquei danos irreparáveis em várias canoas, mas o mais grave foi que, após todo esse tempo, descobri que o casco estava empenado. Talvez fosse possivel uma reforma geral, com troca das canoas e retifica do casco, mas bateu um desgosto: eu já investi bastante nessa caixa (já havia trocado praticamente todo o hardware: automático, aros, algumas canoas, esteira) e ainda não estava bom. Resolvi partir pra uma nova. Eu já estava juntando umas economias pra comprar uma 14"x5,5" no fim do ano, mas estava meio em dúvida em acumular mais uma caixa. Com a aposentadoria da velhinha, a dúvida deixou de existir e lá fui eu pra Teodoro Sampaio em busca de uma nova caixa 14 x 6,5". A idéia inicial era comprar uma caixa de segunda mão. Depois de pesquisar bastante as usadas, não achei nada que fosse significativamente melhor que a velha Luthier a um preço razoável.

Então, ao entrar na Casa dos Bateristas, fui apresentado a uma caixa OCDP 14" x 6,5" nova em folha. A ficha que o vendedor passou: 100% maple, acabamento laqueado, aros die-cast.... De fato, a caixa possui um acabamento muito bem feito. O preço ? R$1500,00, "mas dá pra conversar". Acima do que eu pretendia gastar. O golpe de misericórdia foi quando ele me passou um par de baquetas pra testar. O som era exatamente o que eu procurava. Depois de um pouco de negociação, levei a caixa por R$ 1300,00, à vista. Um preço razoável, comparado às outras caixas 100% maple da região (em outra loja, me pediram R$ 2500,00 em uma Pearl Dennis Chambers bastante usada, com hardware cromado). Por um valor aproximado ao da ODCP, só achei uma Pearl 14"x 5,5" free floating usada, e cujo som não me agradou de imediato.

Compra feita, resolvi examinar bem a mocinha, e pesquisar um pouco sobre a marca, que não é tão conhecida aqui no Brasil. A OCDP é uma fábrica "Custom" americana, que vários analistas comparam com a DW. Seu principal endorser é o cultuado e supervalorizado Travis Barker. O site mostra várias caixas produzidas pela fábrica e cita alguns preços, que eram muito superiores ao valor que paguei. Curioso achar uma caixa dessas à venda em uma pequena loja na Teodoro Sampaio. Estranho...


O acabamento da caixa é realmente muito bonito. O laqueamento é "natural fade", e os veios da madeira mudam de tonalidade de acordo com a incidência da luz:





O casco é laminado, com 9 folhas de madeira de tonalidade clara e veios que parecem ser maple mesmo. A espessura do casco é média (acho que 1/2"), sem anel de reforço. O lado inferior do casco possui um rebaixo bem discreto para a esteira:







Os aros são Die-Cast, para 10 parafusos, um pouco mais leves e finos que os Die-Cast Pearl ou Tama topo de linha, mas sem rebarbas ou defeitos de acabamento. As ferragens possuem um acabamento "Black Chrome" (fumê ou ônix, dá na mesma) muito brilhante e bem feito:




O automático é do tipo gaveta e é fixado ao casco por dois parafusos lado a lado, ao invés de um em cima e outro embaixo. Isso dá a impressão de menor resistência da fixação do tensor, que possui um mecanismo curioso: a alavanca de acionamento não possui um "click" de travamento. Ao invés, possui uma espécie de freio que segura a alavanca em qualquer ponto acima da metade. Por um lado isso pode ser interessante, pois permite ajustar a tensão das esteiras, ainda que grosseiramente, sem precisar mexer no parafuso de tensão. Por outro lado, esse mecanismo não dá muita segurança, e dá a impressão que o automático pode soltar se usarmos tensões mais altas na esteira:





Descobri que o mesmo modelo de automático é usado nos modelos DDrum. Isso é um bom sinal, espero.

Agora, a explicação para o preço:


Isso mesmo: a OCDP possui uma filial chinesa, da qual minha caixa é legitima representante. Pesquisando um pouco mais, descobri que a OCDP possui uma "segunda linha", assim como a PDP é a segunda linha da DW. A segunda linha da OCDP é conhecida como OCDP "X" e possui um logotipo diferente do da minha caixa. A linha "X" é bastante criticada nos fóruns americanos, mas tudo me pareceu uma patriotada anti-asiática. Essa das fotos não é americana e nem é "X", já que o logo é idêntico ao americano. O casco possui oito furos de ventilação. O uso de vários furos (ou uma grande janela) é uma característica típica das OCDP originais. Talvez essa caixa seja de uma nova linha que não chegou em terras do Tio Sam. Isso ainda é uma incógnita.

As peles originais são Remo UT coated. Essas peles são de uma subsidiária também chinesa da Remo. As UT usam o mesmo filme de Mylar das Ambassador, mas são fixadas de um modo menos eficiente à moldura de alumínio. Estas peles são utilizadas como peles originais de fábrica de diversos modelos fabricados na China, inclusive a Sonor 3007. Segundo a Remo, as UT e as Ambassador são absolutamente iguais em timbre quando novas, mas a UT seria menos durável.



Além do automático meio suspeito, a esteira de 20 fios me pareceu o ponto fraco do conjunto: possui um acabamento no máximo regular, com espirais um pouco grosseiras, fios mal soldados e clips de acabamento ruim. Até as esteiras Turbo parecem de alta qualidade se comparadas a essa. Mas achei interessante a deformação nos furos para passagem de fios. Isso permite o uso de fios ou cabos sem correr risco de afastar a esteira da pele, o que aumenta o zumbido. Os tirantes originais são de plástico transparente muito duro, o que exige muito cuidado e trabalho para posicionar a esteira corretamente e manter tensão uniforme nos fios.



Agora, o que interessa: o som. Usei um gravador digital Zoom H4 com os microfones embutidos e um limiter pra controlar a clipagem. Não fiz nenhum processamento do áudio. Não vou fazer comentários. Assistam o vídeo e tirem suas conclusões:




Pro groove, eu fiz algumas modificações na caixa original. Troquei os tirantes originais de plástico por tirantes de nylon canelado (descobri recentemente que o nome usado aqui no Brasil é "fita de gorgurão") e coloquei uma esteira Turbo reduzida para 14 fios. A pele original, usada nos rudimentos, foi substituída por uma Evans HD Dry. Não que a pele original seja ruim, mas pretendo conservá-la, pois contém o logo da OCDP, o que é importante em caso de revenda.
Billy Ward (desenvolvedor técnico da DW) afirma que caixas de boa qualidade são capazes de timbrar bem em afinações médias. Esta OCDP me pareceu soar até melhor em afinações médias que em altas. Acho que estou com um bom produto nas mãos.

Resumindo:

Gostei:
1. Excelente acabamento
2. Boa relação custo-beneficio
3. Som grave e encorpado
4. Bom timbre em uma grande amplitude de afinações
5. É de uma marca reconhecida por sua qualidade


Não gostei:
1. Automático pouco confiável (embora não tenha falhado até agora. O tempo dirá...)
2. Esteira e tirantes de má qualidade
3. Produto chinês, seja lá o que isso signifique
4. Eu não tenho certeza, mas pode ser uma falsificação...

Pra concluir, acho que esta caixa é talhada pra tocar rock pesado, com backbeats bem marcados e rolls bem definidos. Embora não seja uma caixa barata, trata-se de um modelo importado 100% maple com excelente acabamento. Acho dificil encontrar caixas com a mesma qualidade por essa faixa de preço. Eu não diria que se trata de uma caixa versátil, mas é uma excelente escolha pra quem quer começar a explorar modelos de alto nível e quer ficar no rock mais pesado.

22 setembro 2009

No Rules !!

Pra provar que não há regras no mundo da bateria, aqui estão dois vídeos de Eloy Casagrande. Pra quem ainda não o conhece, ele vem sendo apresentado como o novo fenômeno bateristico do rock pesado brasileiro. No primeiro vídeo dá pra ter uma idéia do esforço fisico que ele faz pra fazer sua performance, bastante influenciada por Aquiles Priester. Chama a atenção a nitidez de seus rolls pelo kit:





No segundo vídeo, ele fala um pouco de sua técnica e explica que adotou a pegada francesa. Como deu pra notar no vídeo a cima, o rapaz toca muito forte e muito bem, contrariando o que eu postei antes, no artigo sobre pegada. Confiram:



Mas eu aposto que se ele não mudar de técnica, logo vai arranjar um problema nos pulsos. Mas o rapaz é bem novo, ainda dá tempo de corrigir isso.

04 setembro 2009

Desculpe nossa falha

Eu postei há cerca de um mês atrás um pequeno video onde eu toquei um groove e umas viradas simples, com a intenção de mostrar como as peles Ambassador soavam em um kit mais antigão. Quando vi a gravação do video, tomei um susto: meu pulso direito estava quase totalmente rígido e a condução do ride estava sendo feita à base de movimentos do cotovelo, o que é considerado totalmente errado, com algumas ressalvas. Mas como a intenção do vídeo não era demonstrar técnica de condução, e sim a sonoridade das peles, deixei passar. Mas... no Youtube e no Orkut, alguns amigos repararam em minha mão direita "dura", que berrava em primeiro plano a minha falta de técnica.
Em minha defesa, tenho a dizer o seguinte: em raras ocasiões, é aceitável tocar com o pulso "duro". Existe uma técnica de condução conhecida como "Dead Sticking" (que pode ser traduzida para algo como "Manulação morta") que consiste em controlar os harmônicos do prato com a ponta da baqueta. Steve Gadd domina muito bem esta técnica e é muito interessante notar como ele consegue extrair timbres bastante diferentes de um mesmo ride, usando esse tipo de controle. Obviamente, meu caso não tem nada a ver com Dead Sticking. É erro mesmo. Por algum motivo, às vezes fico tenso e nervoso ao tocar, meu punho fica duro e dá no que deu. No entanto, graças ao video a às observações de meus amigos que o assistiram, passei a prestar mais atenção no movimento do punho direito. Acho que falta mesmo é relaxar enquanto toco. Fica a lição: é bom filmar-se ao tocar, ou tocar em frente a um espelho, para corrigir erros como esse, que passam despercebidos pelo proprio baterista.

Pra finalizar meu pedido de desculpas, fica aqui um pequeno vídeo que ensina um padrão de condução mais complexo e que exige mais técnica para tocar. Esse padrão e suas variações foram bastante usados por Neil Peart em faixas dos anos 80 e 90. A dica é a mesma de sempre: estude o padrão em andamento lento, com metrônomo, até sentir-se confortável. Depois passe para andamentos mais rápidos. Uma vez dominado o padrão, é só encaixar a caixa e o bumbo.

Divirta-se:


27 agosto 2009

Pega na baqueta !


Um erro comum dos bateristas iniciantes e autodidatas é ignorar o modo correto de se segurar as baquetas. Como o ato de segurar um objeto é bastante natural, as baquetas acabam sendo seguradas como uma haste qualquer. Ao se tocar sem a empunhadura adequada, conhecida como “pegada”, o candidato a baterista acaba realizando movimentos que consomem muita energia e pode eventualmente acabar sofrendo lesões nos punhos ou nos braços devido à sobrecarga exercida sobre os músculos e articulações. Uma pegada correta é essencial para um bom desempenho ao se tocar bateria. A principio, a adoção da pegada correta pode parecer meio antinatural, mas com o treino, passa a ser automático segurar adequadamente a baqueta.
A série de vídeos de Dave Weckl que postei aqui explica com detalhes uma forma bastante pessoal de fazer a pegada, a partir de estudos de postura, e de certa forma, mais voltada para o baterista de nível intermediário/avançado. Este artigo vai procurar explicar algumas formas mais simples de segurar suas baquetas. Tenha em mente que existem modos corretos e incorretos de segurar as baquetas. Ao estudar, fique atento para não segurar as baquetas de modo incorreto. Entre os modos corretos, não existe um modo que seja melhor que outro. Cada pegada possui características próprias, e cada baterista deve escolher sua pegada favorita para estudar e tocar. Com o tempo, é aconselhável estudar com as pegadas menos confortáveis.
Com o tempo, o baterista aprende a transitar entre as diferentes pegadas, de modo a aproveitar seus respectivos pontos fortes conforme a música pede. As pegadas mais comuns são a francesa (French Grip), alemã (German Grip), americana (American Grip) e tradicional (Traditional Grip, ou “trad” para os íntimos). As pegadas francesa, alemã e americana se baseiam no conceito “pinça e mola”: a baqueta é presa em uma pinça feita entre a polpa do polegar e a lateral da falange média do dedo indicador. A “mola” é executada com a flexão dos dedos médio, anular e mínimo.







French Grip (FG):
A pegada francesa é executada com a palma da mão em um plano perpendicular ao da pele do tambor. Com as duas mãos em FG, as palmas ficam voltadas uma para outra. A FG foi desenvolvida para execução de toques rápidos e leves, preferencialmente em caixas sinfônicas, pois oferece grande controle de dinâmica. Por outro lado, é uma pegada que não permite execução com muita potência. Na FG o movimento é praticamente limitado aos dedos:


Um erro muito comum é usar a FG para executar toques de muita potência com um grande movimento do punho:

O movimento do vídeo acima pode levar a lesões articulares do punho e há risco até de ruptura de um dos nervos da mão.


German Grip (GG):
A pegada alemã é executada com a palma da mão paralela à pele. O movimento é executado mais no punho e antebraço e exige maior esforço muscular que a FG. A GG permite toques de grande potência e é indicada para, por exemplo, os toques de caixa num backbeat de rock no 2-e-4. A execução de rimshot também é bem facilitada quando se adota a GG. O mecanismo de pinça-e-mola funciona de modo menos eficaz na GG, o que pode atrapalhar a execução de rolls mais sutis.


American Grip (AG):
A pegada americana é derivada da GG, de modo a aproveitar melhor o mecanismo de pinça-e-mola. Na AG, o plano da palma da mão faz um ângulo de aproximadamente 45° com a pele do tambor, mas o trajeto da baqueta permanece perpendicular. Fisiologicamente, o maior arco de movimento do punho se faz exatamente neste posicionamento, e o mecanismo de pinça-e-mola é melhor aproveitado porque o movimento da baqueta na pinça passa a seguir o mesmo plano de movimento do punho.


Traditional Grip (TG):
A pegada tradicional foi desenvolvida para se tocar os tambores marciais que eram levados a tiracolo e tocados em pé. A posição dos tambores era inclinada para a direita e isso tornou necessário que a pesada baqueta na mão esquerda fosse segurada ao contrário, com a palma da mão voltada para cima. Com o tempo, essa pegada invertida foi sendo aprimorada até chegar à TG como a conhecemos hoje:


Embora a TG não exija um posicionamento especial da caixa, normalmente quem a adota prefere usar a caixa com o lado esquerdo 1 a 2 cm mais alto que o direito, para facilitar a execução de rimshots. A TG normalmente é utilizada somente na mão esquerda (para os destros), embora sujeitos como Billy Cobham terem chegado a adotá-la nas duas mãos. A TG é considerada uma pegada difícil e cheia de macetes, exatamente por ser relativamente antinatural, mas uma vez dominada, é provavelmente a mais versátil de todas, que permite ter desde a potência da GG até a sutileza e precisão da FG. Uma limitação da TG é em relação ao alcance de peças posicionadas à esquerda do kit (para destros), que exige uma torção acentuada do tronco para que a ponta da baqueta atinja corretamente a peça.
Cada uma destas pegadas pode ser combinada com outra. Por exemplo, pode-se usar AG na mão de condução enquanto se toca os hi-hats e usar a GG na mão oposta. Quando a mão de condução passa para o ride, pode-se passar para a FG ou para AG. Quanto melhor você dominar cada técnica, mais opções terá para explorar seu kit. No entanto, não deixe que a adoção de uma das técnicas impeça seu desenvolvimento. Por exemplo, se você tiver dificuldade em praticar um determinado rudimento com uma das pegadas, adote uma que facilite o estudo. Quando tiver dominado, estude com outra pegada, e assim por diante.
Divirta-se !

18 agosto 2009

Microfonação MUITO barata

Gosto bastante de ver bateristas amadores tocando no Youtube. Ver pessoas que gostam de tocar bateria e o fazem por hobby me dá uma boa noção de "posicionamento no ranking". Ou seja, é reconfortante saber que tem tanta gente tocando tão mau quanto eu.
Por outro lado, vez por outra me deparo com performances bem acima da média, mas que não dá pra apreciar direito porque a qualidade do áudio é tão ruim que dá vontade de parar o vídeo no meio, o que é uma pena.
Por exemplo, vejam esse:


Há uns dois anos criei um tópico no Fórum Cifra Club convidando os bateristas de lá a postarem um pouco de suas brincadeiras com o instrumento. Era uma época em que o U2B esta engatinhando e hospedagem de áudio não era algo prático. De todo modo, as desculpas que mais ouvi era que as pessoas não possuíam equipamento para gravação. Tinham PC, mas não tinham microfones de qualidade. O resultado foi que o tópico foi abandonado, sumiu nas profundezas do fórum e fiquei muito encanado com isso: seria mesmo necessário um estúdio de gravação com seus equipamentos para se gravar com um mínimo de qualidade ?
Recentemente resolvi aprender a microfonar meu kit do melhor modo possível (com um kit de microfones, mesa de som, processadores off-board, etc.), e ainda tou apanhando bastante, mas no meio de minhas pesquisas, me deparei com alguns vídeos explicando como se gravar um som razoável de bateria com um mínimo de microfonação. O primeiro vídeo usava um caríssimo microfone AKG C2000B. O segundo usava um microfone chinês barato projetado para bateria comprado no Ebay, mas nenhuma dessas soluções achei realmente prática.




Quando comecei a tocar, uma das maiores dificuldades era arranjar um microfone pro vocalista. Os microfones da época eram ou muito caros pros nossos bolsos escolares, ou geravam muita microfonia. E aí um champz descobriu que os fones de ouvido também serviam como microfone. Por possuírem diafragmas largos e circuitos sem interesse no ganho de sinal, os fones de ouvido quase não davam microfonia, embora resultassem em uma qualidade muito ruim de áudio. Mas melhor isso que tentar encobrir bateria e guitarra a seco.
Aí, juntando esses cacos de informação me veio a idéia: será que dá pra usar fones de ouvido pra obter um áudio razoável ? Essa seria uma solução de custo muito baixo, e a tecnologia disponível hoje em dia permitiria ao menos tentar melhorar as limitações desse tipo de técnica. Aí fiz a experiência: o "microfone" usado foi um velho fone de ouvido Phillips que possuía um cabo de 5 m, o que permitiu posicioná-lo e plugá-lo no notebook ao meu lado. Como a entrada de mic do notebook é estéreo, os fones foram posicionados em uma espécie de configuração "XY" para obter um mínimo de imagem. Usei uma antiga versão demo do Sonar pra gravar e processar o áudio. Confiram o resultado:


Espero que seja útil.

12 agosto 2009

2500 ?


Bem, amigos, este pequeno post é para agradecer a repercussão deste blog no meio baterístico. Acabo de ser surpreendido pelo "counter" do blog, que me informa que já houve 2522 visitas. Não é exatamente um recorde, mas é muito gratificante saber que tem bastante gente interessada pelas informações que publico aqui. Sei que recentemente estive em falta, mas em breve devo normalizar a frequência das postagens.


Mais uma vez, muito obrigado !

23 junho 2009

Comprando o primeiro kit


OK, você curte bateria, e depois de muito sacrifício, consegue uma grana pra comprar um kit. Aí chega em uma loja e não sente firmeza no vendedor. Vai em outra e acha que o vendedor está te empurrando algo que não é o que voce quer. Aí, resolve dar uma olhada nos sites de compra on-line e não acha as informações que precisa. Entra nos fóruns e comunidades e vem uma enxurrada de informação que você não tem paciência pra ler ou procurar. E agora ?
Esse post vai tentar fornecer algumas orientações pra você que está procurando seu primeiro kit de bateria. Existem algumas informações importantes que é preciso saber antes de escolher seu kit:
1. Marcas famosas não significam garantia de alta qualidade. Várias marcas estrangeiras fabricam linhas "Entry-level", ou seja, para iniciantes, e que, embora não sejam instrumentos ruins, podem custar o equivalente a produtos nacionais muito melhores em comparação.
2. Definitivamente, não vale a pena adquirir um instrumento barato e de qualidade muito ruim. A bateria é um instrumento que é submetido a um stress mecânico muito intenso, ou seja, deve ser projetada e construída pra levar baquetadas. Instrumentos de má qualidade quebram e ficam inutilizados muito rápido, e adeus investimento. Se o dinheiro que você tem não dá para comprar um instrumento razoável, o melhor é ir economizando, fazer algumas aulas, e adquirir um bom par de baquetas e um pad de estudo pra ir se desenvolvendo um pouco, até ter o dinheiro suficiente pra comprar um kit razoável.
3. Bateria, infelizmente, é um instrumento mais caro que os outros dentro de uma mesma categoria, com exceção do piano. Uma bateria para iniciantes custa mais caro que uma guitarra ou um baixo do mesmo nível. Conforme-se com isso ou escolha outro instrumento.

Com os conceitos acima em mente, faça a seguinte pergunta: que estilo eu pretendo tocar ?
A resposta vai levar à configuração mais adequada para você.
Existem configurações diferentes para estilos diferentes. Um kit completo "mínimo" deve ter uma caixa, um bumbo, um tontom, um surdo, um par de hi-hats, e um prato crash/ride ou, preferencialmente, um ride e um crash. Com essa configuração já dá pra estudar muito bem e tocar ao vivo estilos como jazz tradicional, blues, MPB, pop, funk, hip-hop, rock´n´roll, hard rock, hardcore e emo. Configurações com mais peças (tontons, surdos, segundo bumbo/pedal duplo, crashes adicionais e pratos de efeito) são mais recomendáveis para estilos derivados do metal (heavy, melodico, death, etc.), progressivo, axé, ritmos latinos e fusion. Kits para Rock em geral possuem tambores maiores e com maior profundidade. Uma configuração muito comum e adequada para este estilo é composta de caixa 14"x6,5", tontons de 12"x9" e 13"x10", surdo de chão de 16"x16" e bumbo de 22"x16" ou 18". Os kits mais modernos tendem a possuir tambores de dimensões um pouco menores, o que oferece maior versatilidade para estilos diferentes do rock. A escolha da configuração é muito pessoal e pode inclusive ir se alterando à medida em que você se desenvolve.
Como deu pra perceber, não é obrigatório você começar logo com um kit com 3 tontons e dois surdos, se você não tiver dinheiro pra isso. Minha opinião pessoal é que é melhor ter um kit pequeno com melhor qualidade. Palavra de quem já teve um kit enorme de má qualidade.
Uma alternativa muito interessante para o primeiro kit é o mercado de segunda mão: os usados. Instrumentos musicais desvalorizam bastante, e é possivel encontrar modelos de boa qualidade a um preço muito interessante. A dúvida que fica neste tipo de escolha é: estou fazendo uma boa compra ? Afinal, o produto não vai ter garantia.
Fora as precauções básicas em toda compra de usados (idoneidade do vendedor, possibilidade de instrumentos roubados, formas de pagamento, etc.), existem alguns cuidados que devem ser tomados ao se comprar uma bateria usada:
1. Jamais compre um instrumento usado sem inspecioná-lo pessoalmente.
2. Ao verificar o instrumento procure por:
a. Lascas na pintura ou marcas no revestimento. Pancadas fortes no casco podem provocar descolamento das folhas. Sinais de arranhamento não comprometem a estrutura dos cascos, mas já justifica pedir um desconto.
b. Pontos de oxidação nas ferragens. Cromagens defeituosas ou falta de cuidado podem levar a oxidação por debaixo da camada de cromo. Em pouco tempo, as ferragens começam a descascar. Obviamente isso não vale para ferragens em compósito, como as da RMV.
c. Condições das canoas e suas buchas. Algumas canoas de má qualidade podem se romper no parafuso de fixação do casco. Afinações inadequadas podem estourar as buchas (rosca de fixação dos parafusos de afinação das canoas).
d. Descolamento das folhas dos cascos. Olhe a borda dos cascos com atenção. Peles que não sejam transparentes devem ser removidas. Se houver descolamento, as folhas de madeira ficam levemente separadas. Se remover as peles, proveite pra apalpar o casco por dentro e verificar se não tem nenhuma folha meio mole, que também é indício de soltura.
e. Rachaduras nos pratos e condições do furos centrais. Não compre pratos rachados. Furos centrais comidos indicam falta de cuidado com o instrumento em geral. Algum grau de oxidação dos pratos existe praticamente em qualquer kit usado e não compromete a qualidade.
f. Problemas nos tom-holders. Tom holders do tipo "Rock-Lock" (baseado em esfera) são testados pressionando-se com um pouco de força o tomtom para baixo, que não deve ceder. Obviamente, não tente subir em cima do tontom. Tom holders do tipo "cotovelo" , como nas Pearl e Michael devem ser soltos e reapertados. Se estiverem em boas condições, não será necessário fazer muito esforço para fazer isso e manter os tontons estáveis.
g. É raro ocorrer, mas verifique se não há micro-rachaduras nos sistemas de suspensão dos tons, se existentes. Bons sistemas podem permitir um pouco de oscilação dos tontons ao se bater neles, ou seja, se o tontom oscilar um pouco durante o toque, isso não é necessariamente um problema.
3. Pergunte casualmente ao vendedor se o kit era usado pra fazer shows. Kits mais "rodados" podem apresentar problemas de fixação dos tom holders e das estantes de pratos devido a sucessivas montagens e desmontagens.
4. Se o kit estiver desmontado, monte-o. Se estiver montado, desmonte-o e monte-o novamente. Por uma questão de consideração com o vendedor, informe com antecedência que pretende fazer isso.
5. Se houver pedal duplo, verifique se há folga no cardã (a barra que conecta o pedal remoto ao principal): segure o rotor do pedal remoto e tente mover o batedor. Não deve haver nenhum "jogo". Faça o teste de leveza em pedais simples ou no pedal principal de um duplo.
6. Existem testes para saber se os aros estão empenados e se os cascos possuem um corte adequado, mas isso exige que o tambor seja totalmente desmontado e exige uma superficie plana padrão. Não é viável verificar isso durante a compra, mas se tiver adquirido o kit, é recomendável fazer estes testes. Se houver problemas, tanto o aro quanto o casco podem ser retificados em um luthier.
7. Tenha em mente que sempre vai ser necessário ajeitar uma ou outra coisa no kit usado. Geralmente é necessário trocar as peles, fazer uma boa lubrificação das partes móveis e talvez um polimento nas ferragens e pratos.
8. Para o mercado de usados, é recomendável procurar por marcas conceituadas, estrangeiras ou não, porque possuem um melhor controle de qualidade, o que assegura maior longevidade para seus produtos.
Eventualmente um kit bem "feinho" pode estar em excelentes condições, e ter muito pouco a ser restaurado, podendo ser um excelente negócio. Depois, é só se divertir com seu brinquedinho novo. Ou quase novo.

20 junho 2009

Um groovezinho com as novas peles

Quando postei aqui o video sobre a troca de peles, me pediram pra fazer outro, dentro do contexto de um groove, pra sentir se as novas peles se harmonizam com os pratos e tal.
Bom, fiz um groove curtinho e simples, com algumas viradas de mesmo padrão, só pra ilustrar como as peles soam dentro de um groove.
Comentários são bem vindos.


18 junho 2009

Técnicas de bumbo

Dando sequência aos vídeos que venho traduzindo para a comunidade "Traduzindo Vídeos de Bateria" do Orkut, acabo de publicar a versão legendada do vídeo do site "Free Drum Lessons" , chamado "Bass Drum Techniques". Esse vídeo é voltado para o baterista bem iniciante, e explica sucintamente as duas técnicas mais utilizadas para tocar o pedal do bumbo: o Heel-Down (calcanhar abaixado) e o Heel-Up (calcanhar levantado). Para acionar as legendas, utilize o ícone no canto inferior direito do vídeo. Aproveitem !

11 junho 2009

Uma evolução natural

A primeira vez que eu ouvi falar deste baterista foi num show da Chick Korea e sua Elektric Band, gratuito, no Parque do Ibirapuera em São Paulo, em meados dos anos 80. Confesso que fui mais por curiosidade a respeito da tecnologia do show, pois foi divulgado que Korea iria trazer equipamento de última geração para o palco. No final, o que mais me chamou a atenção foi aquele baterista novinho, com cara de astro pop, dando um show à parte atrás dos tambores, mesclando complexidade rítmica, técnica e musicalidade. E quando Chick anunciou seu nome, gravei pra não esquecer: Dave Weckl.
Mais tarde, vim a saber que Weckl não só é um músico conceituadíssimo no meio musical "pró", como é também muito influente entre os bateristas iniciantes, graças à qualidade de suas video-aulas. Com a chegada do Youtube, trechos destas aulas foram colocados on-line. Fiquei interessado particularmente em uma série de 3 videos retirados da video-aula "A Natural Evolution", que não foi publicada no Brasil, e acabei fazendo a tradução e legendagem para a comunidade do Orkut "Traduzindo Videos de Bateria). Nestes videos, são mostrados alguns conceitos que Weckl adotou para uma nova abordagem da bateria, a partir de observações pessoais e conceitos passados por nomes como Freddie Gruber e Buddy Rich. Eu sempre fico em dúvida até que ponto essas traduções representam violação de direitos autorais, já que o vídeo não foi lançado oficialmente no Brasil, e não há versões legendadas.








Pouco antes do lançamento desta video-aula, Dave Weckl foi entrevistado pela Modern Drummer e mencionou algumas de suas principais "evoluções": a execução da pinça entre o polegar e o médio, a adoção de um bumbo secundário de 18" e a mudança da inclinação da caixa. Também explicou sua opção pela pegada tradicional: "Eu prefiro a pegada tradicional por considerar que pegadas diferentes atuam de modo complementar na abordagem do kit". Os videos acima dão uma boa idéia deste conceito.

06 junho 2009

Pedais de bumbo, como escolher ?


O modo de se tocar o pedal do bumbo é muito pessoal. Existem muitas técnicas diferentes para tocar o pedal do bumbo. Técnicas que funcionam bem para um determinado baterista podem ser muito difíceis para outro. Um bom exemplo é a execução do heel-toe, que é muito fácil para quem tem pés pequenos (ou tem um pedal com sapata grande tipo o Axis). Quem tem pés grandes pode também fazer uma espécie de heel-toe, mas tem mais dificuldade. Existem bateristas com pegada mais pesada e lenta, existem bateristas mais técnicos e velozes. A escolha do pedal deve levar isso tudo em consideração.

Posto isso, acredito que o que faz um pedal ser de boa qualidade são as seguintes características:

1. Leveza: isso não diz respeito propriamente à massa física do pedal, mas à sua menor resposta inercial, ou seja, o quanto esforço o pedal requer para ser acionado. A leveza é resultante de vários fatores, como a massa da sapata e do batedor, da elasticidade da mola, da quantidade de rolamentos nas partes móveis, do projeto, e da regulagem. Pedais mais leves tendem a ser mais rápidos, mas a pegada do toque tende a ser menos forte. Um modo de verificar a leveza é, com o pedal desconectado do bumbo, puxar o batedor pra trás até o final do curso e soltar. Quanto maior o número de oscilações, mais leve é o pedal. Um pedal de boa qualidade deve oscilar pelo menos 10 vezes. Se as oscilações forem em menor número, isso significa que o pedal está dissipando energia, o que vai exigir maior esforço do baterista quando for tocado.
2. Opções de regulagem: Como existem grandes diferenças físicas entre os bateristas, fica evidente que uma determinada regulagem de um pedal pode funcionar pra um e não pra outro. Daí a importância das opções de regulagem de cada pedal. Quanto mais ajustável, melhor, pois é assim que o baterista pode achar os ajustes que melhor funcionem para ele. Regulagens para tocar fusas de metal extremo não funcionam para tocar acentuações em Jazz ou doubles rápidos para um shuffle, por exemplo. Um bom pedal deve ter regulagem de ângulo e altura do batedor, altura e momento da sapata, e de tensão da mola (isso quase todos têm). Os pedais top oferecem regulagens independentes para o ângulo do batedor e altura da sapata, mecanismos de avanço da sapata, regulagens de altura do apoio de calcanhar, diferentes modos de apoio dos pés, conversão para long-board, contra-peso para o batedor, avanço do rotor e o diabo a quatro. E por falar em diabo, creio que o pedal atualmente mais avançado segundo este critério seja o Pearl Demon Drive.
3. Rigidez: A rigidez de um pedal tem a ver com a sensação que o batedor transmite ao pé do baterista. Uma sensação sólida, resultante da rigidez da sapata, da haste do batedor e do mecanismo que os conecta, é importante para execução de toques rápidos. Talvez venham daí as críticas aos pedais da RMV: como a sapata é construída em um compósito (cuja composição não vem ao caso: é segredo industrial e pode ser desde um compósito de fibra de carbono até plástico comum) que possui uma certa elasticidade, a sensação ao tocar é de “lerdeza” e insegurança. Por outro lado, o compósito oferece muita leveza combinada a uma resistência razoável a um preço acessível. Os pedais top possuem sapatas construídas em alumínio aeroespacial ou titânio, materiais que combinam baixa massa e rigidez. Os tops mais recentes adotaram o sistema direct drive para conectar o batedor à sapata, que consiste em uma haste de metal substituindo a corrente ou o tirante de nylon, obtendo com isso maior rigidez e sensibilidade ao tocar.
4. Resistência mecânica: quanto maior a resistência mecânica, maior a durabilidade e confiabilidade do pedal. Uma das piores situações que um baterista pode enfrentar é a quebra do pedal do bumbo durante um show. Todos os componentes de um pedal de bumbo são submetidos a um stress mecânico muito grande. A necessidade de combinar leveza com resistência mecânica torna muito dificil projetar e produzir um pedal de alta qualidade. Muito da necessidade de resistência tem a ver com o estilo do baterista: pisadas mastodônticas, que socam o batedor contra a pele, exigem um equipamento mais resistente, correntes duplas ou direct drive. Bateristas mais técnicos preferem a leveza de uma corrente simples ou de um tirante de nylon. Pedais top são construídos invariavelmente em ligas de metal, que vão do alumínio ao ferro fundido, dependendo do componente. Em um pedal duplo, o componente mais crítico é o cardã, ou eixo de acoplamento. É a barra que conecta o pedal remoto (satélite) ao batedor secundário. Para a transmissão do movimento, o cardã tem uma cruzeta em cada extremidade. Estas cruzetas são submetidas a um stress violento e com o tempo, invariavelmente, criam uma folga que torna impreciso e desconfortável o uso do pedal remoto, especialmente com bateristas que tendem a socar o batedor contra a pele, sem deixar fazer rebote. Os pedais tops mais modernos possuem cruzetas “orbitais”, com um novo desenho que aumenta sua resistência.
5. Qualidade de construção: isso vem do projeto original. Um pedal bem construído não tem folgas em suas dobradiças e sempre atua em silêncio, independentemente da técnica usada. Pedais de má qualidade possuem folgas, rangidos e estalos que podem comprometer, por exemplo, a gravação daquele “take” perfeito que você conseguiu executar após várias horas no estúdio. Muitos rangidos podem ser evitados com uma boa manutenção (um oleozinho nas dobradiças de vez em quando), mas falhas de projeto e construção não há manutenção que resolva.

Levando estes critérios em consideração, fica explicada a popularidade que certas marcas possuem. Os melhores pedais produzidos pela Tama, DW, Gibraltar, Mapex e Pearl, para ficar nestes fabricantes, conseguem superar o grande desafio que é produzir um pedal leve, versátil, rígido, resistente e bem construído, a um preço, se não barato, pelo menos acessível para quem procura qualidade.

04 junho 2009

Afinação, um desafio

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Fazer a afinação de um kit de bateria é uma das tarefas mais desafiadoras para o baterista iniciante. Isso porque não existe uma fórmula ou método definido para se fazer esta afinação. Qualquer pesquisa pelo Google vai mostrar vários diferentes métodos para se fazer a afinação da bateria, sem que um deles seja melhor que outro. Todos estes métodos possuem alguns pontos em comum:
1. É importante manter a tensão uniforme por toda a superficie da pele, ou seja, a tensão dos parafusos de afinação deve ser a mesma para cada pele.
2. Deve-se evitar fazer o assentamento das peles apertando-se os parafusos de forma sequencial (apertar um parafuso, depois o imediatamente ao lado e assim por diante)
3. O ajuste da afinação é feito com pequenos movimentos com a chave de afinação. Giros de 1/8 de volta em todos os parafusos podem fazer uma grande diferença.

Um dos métodos de afinação mais interessantes que encontrei foi desenvolvido por Bob Gatzen, baterista e desenvolvedor de projetos da Evans. Incentivado pelo Daniel Batera, fiz a tradução e legendagem da série de videos que descreve seu método de afinação.









Espero que gostem. Não deixem de comentar.

Como montar um esquema de bateria

Alguns visitantes deste blog têm me perguntado como construir o desenho do kit de bateria visto por cima, conforme está lá na seção "o kit".
O software que usei é alemão e é conhecido como KC Builder. KC significa "Kit Constructor". Esse soft aparece e desaparece da net de vez em quando, provavelmente devido a questões de direitos autorais. É basicamente um aplicativo em Java com um enorme banco de imagens que reune peças de bateria de todos os tipos e marcas, daí os problemas de copyright.
Baixa baixar o programa em http://w11.easy-share.com/695833.html , descompactar numa pasta e achar e executar o arquivo StartKC.bat. Depois de aberto, é só ir montando e salvar/exportar o kit montado como uma imagem ".png" .
O soft é bem divertido e quem gosta de bateria consome horas montando seus kit de sonho. E de graça. Para mim foi bastante útil, para poder mostrar meu kit de um modo visualmente simples aqui no blog.

24 maio 2009

Pele de 18", achei !

Depois de voltas e mais voltas, acabei equipando o surdo de 18" com uma pele Remo Emperor porosa (BE-0118), que encaixou direitinho. Achei a pele na mesma Hendrix da Teodoro, depois do fiasco da Ambassador. A Emperor foi uma escolha que saiu em parte pela dificuldade em achar a Ambassador e em parte porque achei que o surdo de 16" equipado com essa pele de filme simples ficou devendo um pouco na pressão dos graves. Colocando a Emperor no surdão de 18" consegui estes graves sem precisar baixar demais a afinação. A pel nova ainda está assentando, mas em breve posto um comparativo aqui.

21 maio 2009

Bateria Eletrônica

A bateria eletrônica (BE) nada mais é que um sintetizador acionado por pads ao invés de teclado. O set completo de uma BE é composto do kit de pads (que dá o visual e a interação com o baterista) e o módulo, que é o "cérebro" da bateria. O desafio pros fabricantes é o de fazer uma BE que soe e se comporte o mais proximo possivel de uma batera acústica. Obviamente, quanto mais parecida for, maior o custo.

Pads
Existem vários tipos de pads à disposição. Sua função é gerar um sinal analógico que será recebido pelo módulo e convertido para um sinal digital MIDI. Dependendo do tipo de pads, pode ser enviado mais de um sinal, dependendo da região onde se toca, e assim obter-se mais de um tipo de som pro mesmo pad. Os pads de menor custo são um tipo de disco de borracha montado em uma estrutura de material sintético. Estes pads geralmente são mono (emitem um único sinal), mas existem versões de duas saídas (centro e borda). A sensação de tocar (feeling) é bastante diferente de uma acústica, mas não é difícil se adaptar. À direita vemos um diagrama que mostra a anatomia de um pad de BE. É basicamente um transdutor piezoelétrico colado a uma placa de metal. O conjunto é envolvido por uma espuma e o bloco é selado em uma cápsula de borracha.


Os pads de maior custo são os tambores virtuais, que são verdadeiros tambores rasos equipados com triggers internos (às vezes mais de um) e peles mudas. Geralmente têm duas saídas (centro e aro). O feeling destes pads é idêntico ao de um tambor acústico, sendo possível até regular a tensão da pele. Nestes pads os piezos são montados em cápsulas que ficam em contato com a pele muda do pad. O segundo piezo é colocado na borda do tambor (ou aro virtual). Existem também pads que simulam pratos, que são montados em estantes e podem possuir mais de uma saída de sinal, possibilitando sons diferentes dependendo da região onde se toca. A Staff Drum fabrica um pad mono com formato cilíndrico que tem pequenas dimensões e pode ser instalalado em qualquer cantinho do set. Um último tipo de pad é o pedal de chimbal, que tem várias funções.


O módulo
O módulo recebe o sinal analógico, o converte para um sinal digital padrão MIDI e gera uma saída que pode ser analógica ou digital, que necessita amplificação para ser ouvida. Os módulos mais modernos conseguem "ler" a intenção do baterista e reproduzir sons acústicos com fidelidade impressionante. Estes módulos são capazes de reproduzir Ghost notes, press-rolls, aberturas de chimbal e pratos e diversos outros efeitos obtidos em uma acústica. A maioria dos módulos vem com saída para fones de ouvido. Aí do lado tem uma foto do módulo Roland TD-12, um dos mais modernos do mercado atualmente. Pra quem já possui um PC ou notebook com um software de bateria virtual, ou um bom teclado, uma saída relativamente econômica é utilizar uma interface trigger-to-midi. Essa interface faz metade do trabalho que um módulo de bateria faz: simplesmente converte os sinais dos pads para sinais MIDI. Estes sinais então vão para o PC onde são processados e convertidos em som pelo software e pela placa de som. Este esquema pode ter alguma latência, então não é recomendado para som ao vivo, mas estudar e pra fazer suas demos em casa, tá valendo.

O amplificador
O sinal do módulo precisa ser amplificado pra ser ouvido (no caso de um show ou gravação). Pode tb ser diretamente conectado pela saída digital à placa de som do PC do estúdio de gravação. O sinal gerado pelo módulo é estéreo, então seria necessário um set de potência estéreo + duas caixas pra uma reprodução razoável. Uma dificuldade que notei em relação à reprodução do som é o som do bumbo. Devido à baixa freqüência, é necessário um terceiro amplificador com subwoofer pra se obter um bom som de bumbo (tipo ampli pra baixo). A Staff Drum está prestes a lançar um ampli tipo combo, específico pra BE.



As vantagens de ser possuir um set de BE são:
1. O controle sobre o volume do som sem comprometer sua qualidade. Quem tem um set acústico sabe que tocar baixinho fode com o som.
2. A possibilidade de se tocar com fones e não incomodar ninguém durante o estudo. (Convenhamos, pra que não está tocando, é um saco !) Em nome da harmonia com a vizinhança, especialmente quem mora em apartamentos, a eletrônica é praticamente obrigatória.
3. A economia de espaço. Nos apertamentos modernos, espaço é importante.
4. Pouco volume. Carregar um set acústico pra todo lado dentro do seu Ford Ka exige muita disposição, boa vontade e imaginação.
5. Os módulos oferecem inúmeras possibilidades de sons pra cada pad, o que permite trocar de kit (virtualmente) várias vezes durante um show.

Infelizmente existem algumas desvantagens:
1. O preço. Um set completo de BE custa de 2 a 3 vezes mais que um set acústico.
2. O som precisa ser amplificado no caso de um show. Existem várias maneiras de se fazer isso, mas isso foge do tópico.
3. O visual. Isso tem a ver diretamente com o pequeno volume da BE. Bateristas (eu inclusive) preferem ficar meio “enterrados” atrás de seu kit, sei lá por que. Apesar do visual modernoso (os pads da borracha da Staff são mto bonitos), não se compara à presença de um set acústico.


Há também a opção de usar um kit acústico com peles mudas, triggers, abafamento dos pratos e o módulo. Essa montagem pode ser mais barata que um set totalmente eletrônico e tem a vantagem de combinar versatilidade e visual, com presença de palco.

19 maio 2009

Trocando as peles

No post anterior eu falei sobre a dificuldade e precauções a serem tomadas ao se comprar uma pele de 18". Na verdade, ainda não consegui uma pele porosa de 18" nova pro meu surdo. Mas o resto dos tontons e surdos está com um set novinho de Remo Ambassadors porosas. Aproveitei a troca para registrar a diferença de sonoridade entre estes dois tipos de pele.


Minha impressão é de que o som com as Ambassadors ficou mais aveludado e mais seco. Por se tratarem de peles de filme simples, achei que o som teria bem mais ataque, mas isso não ocorreu. O sustain também ficou menor, assim como o volume e projeção, o que era esperado. O medo do excesso de harmônicos se provou sem motivo: com afinação mais baixa, as Ambassadors não "zunem" e os harmônicos soam bem agradáveis. Estas peles também precisam de maior cuidado na afinação, pois podem soar muito mal se a tensão entre os parafusos não estiver bem equilibrada.
No vídeo fica evidente a vocação de cada set de peles: as Evans G1/G2 oferecem um som focado, potente e encorpado, sem perda de ataque, excelente pra rock e vertentes. As Remo Ambassadors já são peles mais melodiosas, com um som muito bonito, mas que pode carecer de agressividade. Seria pra um som mais "adulto". Acho que estou ficando velho...
Confiram aí e postem suas opiniões !

14 maio 2009

Peles de 18", um problema...


Depois de um bom tempo fiel às Evans Genera, chegou o momento de trocar as peles de meu kit. Em busca de uma sonoridade nova, e tendo aprendido muito sobre afinação de tambores nos últimos anos, me animei a equipar a velhinha com peles porosas monofilme, pra ter um som mais aveludado em meus tontons.
A opção surgiu depois de fuçar bastante no youtube e ter uma noção de como estas peles se comportam. Trocar o modelo de peles é sempre algo arriscado: mudar somente em um tambor cria uma heterogeneidade que pode levar à falsa impressão de que a pele nova não foi boa escolha. Então, acabei inve$tindo numa troca de todas as peles dos tontons e surdos de uma vez. As escolhidas foram as tradicionais Remo Ambassador Coated, que encontrei parte na Made in Brazil e parte na Hendrix Music, na Teodoro Sampaio. A mudança de sonoridade foi bastante sensível, e por enquanto estou em fase de lua-de-mel com o novo timbre de meu kit.
O chato dessa brincadeira é a dificuldade pra se achar uma Ambassador porosa pro surdão de 18". As peles de 18" são fabricadas em versões para surdos e para bumbos. Aprendi isso do modo mais caro: no passado, comprei por engano uma pele nova de 18" pro meu surdão e vi que a pele não entrava no aro. Esse é um fato que a maioria dos vendedores não sabe: fui na Hendrix após verificar a disponibilidade da pele para surdo (BA-0118) no site. A consulta ao terminal do estoque mostrou 2 unidades disponíveis. Chega a pele e... tcharam ! Modelo de bumbo (BR-1118)... Depois de algumas consultas adicionais, o vendedor me informou que as peles para surdo acabaram pois tinham sido vendidas como peles para bumbo.
Então, por enquanto, o surdão de meu kit ainda está com a G2 transparente original. Acabei de ver que no site da Hendrix tem uma Emperor (filme duplo) porosa, pra surdo (BE-0118). Arrisco ?
Quando, e se, eu conseguir trocar todas as peles, eu posto aqui um video comparando os novos sons.

09 maio 2009

Breve história dos kits de Bateria




A bateria em forma de kit surgiu no inicio do século XX como um modo de unificar os instrumentos de percussão das marching bands militares, de modo a serem executados por somente uma pessoa.
O primeiro estilo a fazer uso efetivo do kit de bateria foi o jazz. Nesta época a bateria era basicamente constituída do bumbo, pratos (um ou dois) e um "washer", que era derivado das esteiras de lavar roupa, tocado com os dedos protegidos por dedais. Logo, o washer foi substituído pelo tambor de esteira (snare drum), conhecido entre nós como caixa.
O par de pratos que batiam um no outro acionados pelo pé apareceu na década de 20, e em 1926 alguém teve a brilhante idéia de elevar o par de pratos para também serem tocados com as mãos. Dessa elevação surgiu o nome HI-hat. Gene Krupa, em parceria com a Slingerland e a Zildjian, desenvolveu uma máquina de chimbal muito ágil no inicio da década de 30 e foi o primeiro baterista a realizar gravações com um kit com um formato "moderno" (Caixa, bumbo, pratos, hihats, tontom e surdo). Krupa e a Zildjian foram também os inventores dos pratos com função específica, bem como de seus nomes (Crash, Ride, etc)
Desta época até o surgimento do rock, no final da década de 50, a marcação dos tempos fortes era feita basicamente com os hihats, tocados com o pé, e a condução era feita quase sempre no ride. A caixa e o bumbo eram usados pra fills e acentuações.
Com a popularização das Big Bands na década de 30, as dimensões dos tambores aumentaram para soar através da massa sonora gerada pelos instrumentos de sopro. Os batedores do bumbo eram de madeira e o som de bumbo tinha muito kick, mas era muito grave devido as dimensões do tambor. Eram comuns bumbos de 26".
Art Blakey, nos final dos anos 40, inventou o "hard bop", com a caixa bastante presente nas marcações nos tempos 2 e 4, muito similar ao rock, mas ainda era jazz com "J" maiusculo.
Agora, o grande responsável pelo modo como tocamos bateria hoje em dia foi... Ringo Starr ! Ringo foi o primeiro baterista de renome a usar a matched grip, que era necessária pra dar projeção no som da caixa através das guitarras amplificadas. Além disso, a popularização dos Beatles alavancou a venda de baterias para amadores.
Na década de 60 predominou o som de kits com tambores relativamente pequenos e pratos leves. O chimbal e a caixa ganharam definitivamente seu lugar na condução do groove, mas o ride ainda marcava sua presença.
O surgimento do rock pesado na decada de 70 novamente fez com que os tambores aumentassem de tamanho. A sonoridade tendia a ser gorda e encorpada, devido em parte ao grande sucesso da grande novidade do mundo percussivo, as peles hidráulicas. Paralelamente, o rock progressivo incentivou o aparecimento de kits complexos, repletos de tambores e acessorios de percussão, a fim de atingir as ambições musicais deste estilo. Os kits de Heavy Metal dos anos 80 são uma espécie de cruzamento dos kits de Prog com os de Hard-Rock: setups imensos com tambores grandes, uma floresta de pratos e o baterista enterrado lá no meio.
Na segunda metade da década de 80 os componentes eletrônicos de percussão começaram a se destacar, em especial a hoje clássica Simmons SD-5 e seus pads hexagonais. Nessa época, o som padrão de bateria era a condução alternada em semicolcheias, com as duas mãos nos hihats. Essa tendência era tão forte que houve que decretasse a morte do ride. E os mais radicais decretavam a morte do kit de bateria todo, a ser substituído por sequencers e samplers cada vez melhores.
Os anos 90 marcaram um encolhimento dos kits, seja por opção de retornar à uma sonoridade básica e crua ou seja pela grande flexibilidade percussiva possibilitada pelo avanço da tecnologia em percussão eletrônica. Os fabricantes das eletrônicas passaram a buscar uma simulação das baterias acústicas, objetivo só alcançado recentemente. Uma melhor tecnologia de fabricação de pedais possibilitou a relativa popularização do pedal duplo de bumbo, diminuindo muito a necessidade de um incômodo segundo bumbo para a maioria dos bateristas, bem como o desenvolvimento e popularização de grooves com doubles muito rápidos, até por quem não possuía muita técnica de pedal. Os grooves com o ride foram reabilitados e o pratão voltou a ser parte integrante e efetiva do kit.
Entre o final da década de 90 e os dias de hoje, duas tendências vêm se apresentando: a continuidade da sonoridade crua da década de 90 e a hipervalorização da velocidade nos pedais, em parte por causa do aperfeiçoamento da tecnologia de fabricação dos mesmos. As peles de filme simples voltaram a ganhar força e a sonoridade atual privilegia o ataque e o sustain. Os kits eletrônicos estão muito próximos de emular os acústicos, tanto em som quanto em sensação ao tocar. Os home studios proliferaram e boa parte dos outros musicos podem dispensar o baterista na hora de gravar. Hoje em dia é virtualmente impossível diferenciar uma trilha acústica de uma sequenciada em uma gravação. Ao vivo já é outra coisa.
Pro futuro, o que vem por aí serão baterias eletrônicas cada vez mais realistas e baratas. Acredito que a bateria acústica não deverá ser extinta, mas deverá ser a exceção ao invés da regra, assim como as válvulas e os vinis.

30 abril 2009

Sobre Cascos... (ou porque minha Pearl Export não é uma DW)


O casco é o corpo do tambor e pode ser feito de vários materiais, mas o mais utilizado é madeira mesmo. Na década de 70 a Ludwig lançou o modelo Vista-Lite, todo em acrílico, que fez muito sucesso, mais pelo efeito visual q pela sonoridade. A Gope, no Brasil lançou também sua versão de acrílico, na década de 80. Existem cascos em aglomerado e em diversos tipos de compósito, em especial de fibra de carbono. A madeira é o material preferido para a confecção de cascos devido a suas propriedades acústicas, principalmente a projeção e seletividade de frequências. O casco é responsável pelo timbre e "profundidade" do som do tambor. Ao tocar a pele, o casco ressoa com ela e resulta no som final do tambor. Tambores de melhor qualidade tem cascos compostos de madeiras que ressoam melhor que tambores mais baratos. Para entender melhor o papel dos cascos, experimente retirar as peles de um tambor e tocar no casco (suspenso) com uma baqueta de feltro. O casco tem sonoridade própria !
A função do material do casco é fundamentalmente ressoar com o toque da pele. A maneira como ocorre esta interação é que determina o timbre do tambor. Tambores de grande massa (seja densidade ou espessura) necessitam mais força para obter boa ressonância e tendem a ter menor volume. Madeiras mais densas respondem melhor a frequencias altas e tem timbre mais brilhante. Madeiras um pouco menos densas respondem a frequencias mais baixas e resultam em timbre mais encorpado. Quando a densidade cai muito, o tambor começa a perder características de ressonância e volume. A densidade mais próxima do ideal (na verdade, isso vai muuito de gosto) infelizmente é resultado de um crescimento lento da árvore. Em geral, árvores que crescem rápido fornecem madeira de baixa densidade e pouca ressonância, em se tratando de cascos de tambor. Alguém conhece baterias feitas de eucalipto ? No Brasil, as árvores de crescimento lento mais utilizadas para baterias de qualidade são o pinho de araucária, a Imbuia (usadas na Odery), a Bapeva (usada na RMV Concept e parcialmente na Road Up) e o Cedro rosa (Luthier, Maxter, Adah). Nos USA, todos sabemos que Maple e Birch são as madeiras de escolha para tambores de alta qualidade. São tb arvores de crescimento lento, nativas dos USA. O Mogno (mahogany) Africano tem (dizem, nunca ouvi) o timbre mais encorpado de todas. O preço destas madeiras é alto principalmente pela sua relativa raridade (a extração de mogno africano está à beira da ilegalidade) e políticas de proteção ambiental. Além disso, há alto custo em fretes intenacionais. Se fosse possível vender maple, mogno, araucária, etc. barato, logo estas árvores estariam extintas. A solução para obter um som razoável foi combinar madeiras de baixo custo com madeiras de médio custo (incluidos no custo estão frete internacional, impostos, custo de extração, taxas ambientais, etc). A Pearl e as demais fábricas japonesas encontraram uma solução no chamado Mogno filipino (Philippine Mahogany). Esta árvore não tem nada a ver com mogno e é também conhecida como Lauan. As Pearl Export e Forum até 2001 foram produzidas com esta madeira e a partir daí, em Poplar, que tem características acusticas semelhantes, mas permite melhor acabamento (laqueado). Mais recentemente, o basswood substituiu o poplar na linha Vision, que substituiu a Export. Outros fatores que contribuíram para baixar o custo é a mão de obra local barata.
Já os cascos "top" são produzidos com madeiras selecionadas e produzidos de maneira quase artesanal, com cuidadosa seleção e aposição das lâminas de madeira. A DW Collector, por exemplo, é produzida em 100% maple selecionado. Seus cascos são finos, com anéis de reforço, o que resulta em um som encorpado e controlado com excelente projeção.
Em relação à dimensão dos tambores e sua afinação, cada tambor apresenta uma tessitura, que é determinada por suas dimensões e pelas características do material em que é fabricado. A tessitura de um tambor pode ser entendida como o intervalo de frequências em que o casco tem maior ressonância com a pele. Assim, ao afinar seu tambor, é recomendável que procure fazê-lo dentro da tessitura dele. Ao se afinar acima ou abaixo da tessitura, o som fica diferente, com menos "corpo". Ao golpear a pele de ataque ("batedeira"), é gerada uma vibração nela que se propaga através do ar dentro do tambor e atinge a pele de resposta, que também vai vibrar. Essa vibração se propaga de volta para a batedeira e assim por diante. Uma boa parte da propagação também sai diretamente para fora do tambor, tanto pela batedeira, como pela resposta. A combinação de todas estas ondas interage com o casco, que também vibra segundo suas características físicas. O som que ouvimos é resultante da interação das ondas que se propagam desta maneira. Tambores mais rasos fazem com que o tempo entre a vibração na batedeira e resposta seja mais curto, e é necessário menos deslocamento do ar durante a propagação das ondas dentro do tambor. O som resultante tem um ataque mais rápido e brilhante, e o tambor "fala" mais alto, com menos esforço. Em tambores mais profundos, há um maior volume (cm3) de ar a ser "agitado", e o tempo para a resposta ressoar após o toque da batedeira é maior. Isso exige maior esforço do baterista, mas o som resultante é mais "gordo" e encorpado. Tambores maiores acabam tendo um volume (pressão sonora) final mais alto que os menores, mas à custa de maior esforço. Isso significa que quando mais profundo o tambor, maior sua resposta dinâmica. Note que não falei em "grave" ou "agudo". Isso é característica de afinação. Diâmetros maiores resultam em tessituras mais graves, portanto em sons mais graves. Diâmetros menores fazem o contrário. De um modo geral, quanto maior o volume (cm3) de um tambor, mais grave será sua tessitura, mas maior será sua resposta dinâmica e volume sonoro (pressão sonora).
Identificar a tessitura de seu tambor requer um pouco de ouvido. O modo mais fácil é remover a pele de resposta, afinar a batedeira o mais "solta" possível e começar a bater. Vá subindo a afinação com 1/4 de volta de cada parafuso (afinação cruzada). Vai chegar um ponto em que o tambor vai deixar de ter um som de pote de plástico e começar a soar como um tambor. Esse é ponto mais grave da tessitura. Continue subindo a afinação. Vai chegar a um ponto em que dá a impressão que o som ficou muito "seco" ou "plastificado" (descrever som com palavras é difícil...) Esse é o ponto logo acima do final alto da tessitura. Volte a afinação para a zona de melhor ressonância (dentro da tessitura); remova o tom da estante e coloque sobre um tapete; toque a batedeira, bem no centro: esse som é o harmônico fundamental da sua afinação; coloque a resposta e a afine o mais próximo possível do tom da batedeira, com o tambor ao contrário (a batedeira sobre o tapete). Monte o tom na estante e divirta-se. Depois de ter o ouvido mais treinado, dá pra achar a tessitura sem desmontar o tambor, é só ir mexendo na afinação. O treino do ouvido é necessário pra se distinguir o harmônico fundamental no meio de todas as ressonâncias de um tambor montado. Nada impede que você afine seus tons fora da tessitura, isso é uma opção como outra qualquer. O que acontece é que quando você respeita as tessituras dos tambores na sua afinação, eles soam melhor em conjunto.